Quatro amigos, quatro histórias, quatro origens, quatro profissionais e
um compromisso: documentar e observar as aves que habitam desse lado do Chaco,
o extremo Chaco oriental.
Afinal, o que é o Chaco e onde está representado no Brasil?
Vitinho, Simone Mamede, Guto Carvalho e Maristela Benites. Foto: Claudio Pinho |
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Mapa da distribuição das áreas de Savana Estépica (Chaco) na planície do Pantanal. Fonte: Silva e Caputo, 2010. |
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Coleiro-do-brejo (Sporophila collaris). Foto: Victor Nascimento |
A alta densidade de carandás, paratudos, piúvas, baías e campos inundados, vez ou outra, nos relembram que também estamos em solo sul-pantaneiro. Mas, e as aves?
A expedição, que teve como intuito observar as aves dessa região, começou bem da verdade, muito antes da viagem, propriamente dita.
Foram vários convites, articulações, reuniões, telefonemas, e-mails, ofícios e lá se passou 02 anos! Até que chegou! Um coletivo de amigos se mobilizou, organizou agenda e tudo saiu mais que perfeito.
Já no primeiro dia, melhor dizendo, na primeira tarde fomos
recepcionados na região da Serra da Bocaina por uma linda águia-cinzenta (Urubitinga coronata), espécie rara e
ameaçada de extinção. Mesmo voando longe e alto, era impossível não reconhecer
aquele animal belo e imponente. A partir daí só expectativa só foi aumentando.
Águia-cinzenta (Urubitinga coronata), jovem. Foto: Simone Mamede |
À tarde partimos para uma visita em área próxima à sede do município,
cerca de 03 km, às margens da rodovia. Tratava-se de um campo sazonalmente
inundável com pouca água e muita lama em vários pontos, circundada por baía e
bastante taboa (Typha domingensis). Apesar
de tudo aparentemente calmo e parado, foi só descermos do carro para
constatarmos que, felizmente, o cenário não era bem este. De súbito,
encontramos tijerila (Xenopsaris
albinucha), canário-do-campo (Emberizoides
herbicola), tico-tico-rei (Lanio
cucullatus), suiriri-cinzento (Suiriri
suiriri), canário-da-terra (Sicalis
flaveola), sabiá-gongá (Saltator
coerulescens) e tantos outros. Caminhamos um pouco mais, cerca de 20 m e lá
estava um casal de viuvinha-de-óculos (Hymenops
perspicillatus). No chão todo, cuidado era pouco para não espantar as
dezenas de batuíra-de-coleira (Charadrius
collaris), corta-água (Rynchops niger),
jaçanãs (Jacana jacana) e os corucões
(Chordeiles nacunda) fingindo-se de fezes
de boi e cavalo. Depois de várias surpresas era hora de regressar. Não apenas
nós como também os mais de 1000 garibaldis (Chrysomus
ruficapillus) que aos bandos chegavam para pernoitarem no taboal,
juntamente a outras aves.
Cochicho (Anumbius annumbi). Foto: Simone Mamede |
Ema (Rhea americana) |
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Pica-pau-de-barriga-preta (Campephilus leucopogon). Foto: Simone Mamede |
Visitamos alguns locais dentro do perímetro urbano e 02 destacamentos do
exército brasileiro (2ª Cia Fron): Destacamento da Ingazeira e Destacamento
Barranco Branco. Até a Ingazeira foram inúmeras paradas, o percurso de 60 km
que normalmente costuma durar 2 horas, levamos a manhã toda para chegarmos ao
destino. Observação de aves tem muito disso, muitas vezes não há um destino
específico, porque a travessia é o mais importante. A primeira parada foi para
observarmos grupo misto de papa-capins, em especial, o caboclinho-de-barriga-vermelha
(Sporophila hypoxantha). É uma
espécie oficialmente ameaçada de extinção, principalmente pela perda de
hábitat, uma vez que depende de campos nativos para sobrevivência.
Pica-pau-de-testa-branca (Melanerpes cactorum). Foto: Simone Mamede |
Os grupos mais representativos que encontramos foram: icterídeos, ou
seja, dos pássaros-pretos, chopins e afins (12 espécies), pica-paus (07
espécies). Grupo com baixa riqueza foi dos papa-moscas
(tiranídeos), muito
provavelmente tem a ver com a sazonalidade, cujas espécies em grande parte,
está em migração a procura de áreas para invernada onde há alimento disponível
(insetos e outros artrópodos) e clima favorável neste período do ano.
Papa-moscas-canela (Polystictus pectoralis). Foto Simone Mamede |
Em Barranco Branco, encontramos diversidade surpreendente com destaque
à: joão-pinto (Icterus croconotus),
tiriba-fogo (Pyrrhura devillei),
jacutinga (Aburria cumanensis), arapaçu-verde
(Sittasomus griseicapillus),
choca-da-mata (Thamnophilus caerulescens
paraguayensis), sanhaçu-de-fogo (Piranga
flava), caneleiro-verde (Pachyramphus
viridis), bandos de aratinga-de-testa-azul (Thectocercus acuticaudatus), de caturritas (Myiopsitta monachus), periquitos-de-cabeça-preta (Aratinga nenday), dentre outras.
João-pinto (Icterus croconotus) |
As 48 horas de observação resultaram em aproximadamente 200 espécies observadas, ou
seja, cerca de 05 espécies diferentes por hora! Diante do pouco esforço
amostral e sazonalidade – isto é, há que se considerar que estamos na estação
seca, onde muitas espécies estão emigrando – os dados se mostram inconclusivos
e nova campanha já está sendo planejada. Das 282 espécies apresentadas para
essa região por Straube et al.
(2006), os quais apresentam uma compilação de listas incluindo dados primários,
17 espécies representam novos registros:
águia-cinzenta (U. coronata),
suindara (Tyto furcata),
bacurau-de-rabo-maculado (Hydropsalis
maculicauda), arredio-oliváceo (Cranioleuca
obsoleta), papa-moscas-canela (Polystictus
pectoralis), caboclinho-de-barriga-vermelha (Sporophila hypoxantha), azulão (C.
brissonii), garibaldi (Chrysomus
ruficapillus), dentre outras.
Durante a expedição cremos que vários olhos foram tocados e contagiados
pelos simples exercício de parar, olhar ao redor e ouvir a natureza,
especialmente as aves. A observação de aves não está limitada à profissão ou
qualquer outro tipo de segregação de grupo, mas tem proposta inclusiva e
multidisciplinar, de modo a fomentar uma maneira diferente de interagir com a
natureza. A percepção é um dos fundamentos dessa prática naturalista.
Corucão (Chordeiles nacunda) |
Encontro com Papa-moscas-canela. Foto: Maristela Benites |
A Expedição Aves do Chaco Brasileiro composta pelos profissionais: Maristela Benites (Ornitóloga - Instituto Mamede) Guto Carvalho (Coordenador do Avistar Brasil) Victor Nascimento (Guia de Observação de Aves - Vitinho Birdwatching) e Simone Mamede (Bióloga e Educadora Ambiental - Instituto Mamede) só foi possível graças ao empenho dos
quatro amigos e de outros tantos – amigos e/ou parceiros: Gleidson Melo, Cel.
Queiroz do CMO de Campo Grande-MS, 2ª CIA FRON de Porto Murtinho, Prefeitura
municipal de Porto Murtinho, Secretaria Municipal de Turismo, Câmara de Vereadores e todos os demais companheiros que carinhosamente nos receberam e
alguns deles nos acompanharam.
A lista de espécies das aves encontradas encontra-se disponível em:
O Projeto Aves do Chaco está apenas começando, as próximas expedições estão previstas para agosto e novembro de 2015 envolvendo ações em Educação Ambiental, Pesquisa e cidadania. Um elo entre o Cidadão Cientista e a transformação de Territórios Sustentáveis.
O Projeto Aves do Chaco está apenas começando, as próximas expedições estão previstas para agosto e novembro de 2015 envolvendo ações em Educação Ambiental, Pesquisa e cidadania. Um elo entre o Cidadão Cientista e a transformação de Territórios Sustentáveis.
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